Moisés de Freitas - 29/07/2010
O programa do robô faz com que ele se aproxime periodicamente de um depósito de comida, onde obtém uma porção de ração para robôs adequada para alimentar as 48 células a combustível microbianas que fazem as vezes de estômago.[Imagem: Univ.Bristol]
O dilema das baterias
Comece a estudar robótica e cedo você descobrirá que a área se divide em duas áreas aparentemente opostas, uma altamente entusiasmante, e outra que é quase só frustração.
No lado agradável estão a mecatrônica, a inteligência artificial, sensores extremamente precisos, aprendizado de máquina, computação cognitiva e um sem-número de outros assuntos apaixonantes.
No lado desagradável estão, felizmente sozinhas, as baterias. Não que baterias por si só não sejam desafiadoras, mas elas são sempre um empecilho à criação de robôs autônomos. Qualquer desenvolvimento no "lado agradável" vai esbarrar sempre em limitações no "lado desagradável".
Intestino robótico
Em busca da liberdade para seus robôs, a equipe do Dr. Chris Melhuish, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, resolveu adotar uma solução, por assim dizer, biomimética: criar um estômago artificial, capaz de digerir biomassa e gerar a energia necessária para alimentar os circuitos eletroeletrônicos do robô.
A mesma equipe já havia construído um robô capaz de gerar sua própria energia a partir de moscas mortas, mas eles decidiram que seria mais eficiente usar bactérias - além da eficiência, eles poderiam também evitar problemas com as associações dos defensores das moscas.
Contudo, gerar eletricidade a partir de biomassa não é nenhuma novidade e, de fato, cria um problema semelhante ao das baterias: da mesma forma que baterias precisam ser recarregadas, biocélulas microbianas geram rejeitos, que precisam ser descartados periodicamente.
A saída foi então construir também um intestino artificial, por onde o "diarreia-bot" possa excretar o seu cocô robótico.
Ração para robôs
Embora ainda não seja capaz de sair pela floresta e passar meses caçando sua própria comida e coletando dados ambientais, o Ecobot, agora na sua versão III, mostra tecnologias promissoras rumo a uma realidade semelhante a essa.
Testado em um ambiente de laboratório, o Ecobot funcionou ininterruptamente por sete dias, digerindo sua comida, gerando sua energia e fazendo seu trabalho ao longo de um pequeno trilho e, mais importante, lançando fora o material que não era mais necessário em seu estômago bioeletroquímico.
O programa do robô faz com que ele se aproxime periodicamente de um depósito de comida, onde obtém uma porção de ração para robôs adequada para alimentar as 48 células a combustível microbianas que fazem as vezes de estômago, ou de gerador de energia.
Biocélulas bacterianas
As 48 células a combustível microbianas fazem as vezes de estômago, ou de gerador de energia, suficiente para alimentar todos os circuitos do robô. [Imagem: UWE]
O processo consiste basicamente em reações de oxidação-redução, que ocorrem no anodo das biocélulas. Conforme as bactérias digerem o alimento, elas quebram átomos de hidrogênio.
Os elétrons do hidrogênio migram para o eletrodo, gerando uma corrente, enquanto os íons de hidrogênio passam através de uma membrana de troca de prótons, chegando à câmara que funciona como catodo da célula. Essa câmara fica cheia de água, permitindo que o oxigênio da água combine-se com os prótons para produzir mais água.
Como a água produzida não é suficiente para contrabalançar a evaporação, o Ecobot, além de comer, precisa também beber água regularmente.
A disposição das biocélulas permite que qualquer material não digerido se acumule em um furo central, de onde ele é recirculado para permitir a máxima extração de energia. Em termos energéticos, contudo, o sistema é ineficiente, capturando apenas 1% da energia contida no alimento.
O intestino do robô imita os movimentos peristálticos do intestino humano com a ajuda de uma pequena bomba, que aplica ondas em um tubo plástico por onde o material indesejado é descartado.
Gaby Teles

" Eu queria que você fosse um estranho de quem eu pudesse me desligar"
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Brasileiros criam modelos teóricos para fenômenos quânticos
Fábio de Castro - Agência Fapesp - 04/08/2010
Pesquisadores da Unesp desenvolveram modelos teóricos para explicar resultados de pesquisas experimentais sobre condensado de Bose-Einstein, que permite estudar fenômenos quânticos em escala visível. [Imagem: Adhikari et al.]
Fenômenos quânticos
Até meados da década passada os fenômenos quânticos só podiam ser estudados na teoria, pois não era possível visualizar os componentes de sistemas atômicos em escala tão pequena.
Essa limitação só começou a ser superada quando foi descoberto o condensado de Bose-Einstein - uma fase da matéria formada por átomos em temperaturas próximas do zero absoluto, que permite a observação de efeitos quânticos em escala macroscópica.
O estudo do condensado de Bose-Einstein se tornou fundamental para desvendar os enigmas do mundo quântico.
Modelos teóricos quânticos
Um projeto temático financiado pela FAPESP está contribuindo para esse avanço do conhecimento ao desenvolver modelos teóricos capazes de explicar fenômenos observados a partir de experimentos realizados com o condensado.
Coordenado por Sadhan Adhikari, professor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o projeto "Estudo de Condensação de Bose-Einstein usando a teoria de campo médio" foi iniciado em 2006.
Segundo Adhikari, entre os diversos resultados obtidos até agora, um dos mais significativos está relacionado ao fenômeno conhecido como localização de Anderson em condensados de Bose-Einstein. Três artigos sobre o tema foram publicados na revista Physical Review A em 2009 e 2010 pelo grupo de Adhikari.
Os trabalhos se fundamentaram em dois artigos publicados por grupos europeus em 2008 na revista Nature, os quais descreviam experimentos que utilizaram lasers polarizados para estudar a localização de Anderson em condensados de Bose-Einstein.
"Nós estudamos e explicamos em modelos teóricos os resultados desses experimentos. Os estudos sobre o condensado de Bose-Einstein são muito interessantes, porque permitem observar processos quânticos que, tempos atrás, estavam na imaginação dos teóricos. Agora que podemos verificar em laboratório as previsões teóricas, precisamos voltar à teoria para explicar de forma precisa o que foi observado", disse Adhikari.
Einstein, Bose e o condensado
A existência do condensado de Bose-Einstein foi prevista por Albert Einstein em 1925, a partir do trabalho de Satyendra Nath Bose, como consequência teórica da mecânica quântica. Setenta anos depois, em 1995, na Universidade do Colorado (Estados Unidos), Eric Cornell e Carl Wieman produziram pela primeira vez o condensado - recebendo, por conta disso, o Prêmio Nobel da Física em 2001.
O físico norte-americano Philip Warren Anderson, nascido em 1923, estudou profundamente as propriedades dos sólidos e os problemas da física da matéria condensada. Quando trabalhava nos Laboratórios Bell Labs, há cerca de 50 anos, Anderson descobriu o conceito de localização - a ideia de que estados expandidos podem ser localizados pela presença da desordem em um sistema.
Em 1977, Anderson ganhou o Nobel da Física por pesquisas sobre a estrutura eletrônica de sistemas magnéticos e desordenados, que permitiram o desenvolvimento de componentes de memória em computadores.
Condutor vira isolante
A condensação de bósons, ou de pares de férmions pela generalização apropriada, é um efeito frágil que pode ser facilmente superado por outras instabilidades. Dentre seus principais competidores estão a cristalização, a dissociação no caso de bósons compostos, e a desordem e localização.
"Na época, sabia-se que era possível transformar um sólido condutor em isolante - isto é, em um sólido que não permite que os elétrons carregados se movam por ele - com a introdução de uma pequena porcentagem de impurezas. Anderson estudou esses mecanismos e percebeu que os elétrons se movem em paralelo a uma rede de átomos localizada na superfície do sólido", disse Adhikari.
Com isso, Anderson percebeu que os átomos do sólido têm um potencial que, muito ordenado quando o sólido é puro, repete-se periodicamente. "Mas, quando colocamos impurezas no sólido, esse potencial periódico é quebrado. Quando o elétron encontra essa desordem, ele não consegue continuar seu trajeto e o sólido perde a condutibilidade. Anderson descobriu a formação de um estado ligado na superfície sólida", explicou Adhikari.
Localização de Anderson
A ausência da difusão de ondas em um meio desordenado passou a ser conhecida como "localização de Anderson". O fenômeno sugere a possibilidade de localização de elétrons dentro de um semicondutor, desde que o grau de aleatoriedade das impurezas ou defeitos seja suficientemente alto.
Os movimentos dos elétrons, no entanto, não podem ser observados, já que as minúsculas partículas obedecem às leis da mecânica quântica. Só a partir de 1995 o condensado de Bose-Einstein abriu a perspectiva para estudos experimentais desses fenômenos. Em 2008, os dois estudos europeus descreveram experimentos feitos com o condensado sobre o fenômeno da localização de Anderson.
"No laboratório, os cientistas criaram uma rede potencial com o uso de lasers polarizados que, refletidos entre dois espelhos, geravam uma onda estacionária. Ao longo dessa onda aparece um campo magnético que varia enquanto se propaga, mas que possui um comportamento periódico, com um potencial encontrado pelos elétrons dentro do sólido. Em vez do elétron, os pesquisadores colocam o condensado de Bose-Einstein nesse potencial para tentar localizá-lo", disse Adhikari.
Se o potencial for suficientemente forte, o condensado é localizado. Se for fraco demais, o condensado desaparece. "Eles criaram um potencial sem periodicidade, aleatório e perceberam que o condensado fica estagnado. Com isso, deram uma prova experimental do efeito de Anderson", disse.
Localização do condensado
Adhikari utilizou equações de Schroedinger para estudar e explicar os resultados das experiências em modelos teóricos. Além de verificar se as observações estavam corretas e se o condensado de Bose-Einstein de fato se tornava localizado, os estudos avaliaram o tamanho e a natureza da localização, definindo como ela varia ou qual sua interferência na interação potencial entre os átomos do condensado.
"A partir desse estudo, previmos também a localização do condensado de Bose-Einstein em outros casos, como o dos átomos dipolares. Condensados simples envolvem átomos comuns com potencial de curto alcance entre eles. Mas com os átomos com momento elétrico dipolar - que estão sendo muito utilizados para gerar condensados - podemos ter um potencial de longo alcance", disse.
Fronteira entre mundos quântico e clássico
No lado prático, vários progressos recentes têm sido feitos em busca de novas formas de estudar experimentalmente os fenômenos quânticos.
Há poucos meses, um grupo de pesquisadores demonstrou que uma esfera levitando por luz torna os fenômenos quânticos detectáveis numa escala maior, embora ainda microscópica.
O grupo do Dr. Markus Aspelmeyer, da Áustria, foi mais longe e estabeleceu uma interação entre um fóton e um ressonador micromecânico, criando o chamado acoplamento forte, capaz de transferir efeitos quânticos para o mundo macroscópico - veja Mundo quântico comunica-se com o mundo macro pela primeira vez.
O maior passo até agora, contudo, parece ter sido dado por uma equipe da Universidade de Santa Bárbara, nos Estados Unidos, que demonstrou que um ressonador mecânico - uma pequena fita metálica que pode vibrar livremente - que foi resfriada até o seu estado fundamental de energia (ground state), funciona em nível macro conforme as probabilidades de mecânica quântica - veja Mecânica quântica aplica-se ao movimento de objetos macroscópicos.
Pesquisadores da Unesp desenvolveram modelos teóricos para explicar resultados de pesquisas experimentais sobre condensado de Bose-Einstein, que permite estudar fenômenos quânticos em escala visível. [Imagem: Adhikari et al.]
Fenômenos quânticos
Até meados da década passada os fenômenos quânticos só podiam ser estudados na teoria, pois não era possível visualizar os componentes de sistemas atômicos em escala tão pequena.
Essa limitação só começou a ser superada quando foi descoberto o condensado de Bose-Einstein - uma fase da matéria formada por átomos em temperaturas próximas do zero absoluto, que permite a observação de efeitos quânticos em escala macroscópica.
O estudo do condensado de Bose-Einstein se tornou fundamental para desvendar os enigmas do mundo quântico.
Modelos teóricos quânticos
Um projeto temático financiado pela FAPESP está contribuindo para esse avanço do conhecimento ao desenvolver modelos teóricos capazes de explicar fenômenos observados a partir de experimentos realizados com o condensado.
Coordenado por Sadhan Adhikari, professor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o projeto "Estudo de Condensação de Bose-Einstein usando a teoria de campo médio" foi iniciado em 2006.
Segundo Adhikari, entre os diversos resultados obtidos até agora, um dos mais significativos está relacionado ao fenômeno conhecido como localização de Anderson em condensados de Bose-Einstein. Três artigos sobre o tema foram publicados na revista Physical Review A em 2009 e 2010 pelo grupo de Adhikari.
Os trabalhos se fundamentaram em dois artigos publicados por grupos europeus em 2008 na revista Nature, os quais descreviam experimentos que utilizaram lasers polarizados para estudar a localização de Anderson em condensados de Bose-Einstein.
"Nós estudamos e explicamos em modelos teóricos os resultados desses experimentos. Os estudos sobre o condensado de Bose-Einstein são muito interessantes, porque permitem observar processos quânticos que, tempos atrás, estavam na imaginação dos teóricos. Agora que podemos verificar em laboratório as previsões teóricas, precisamos voltar à teoria para explicar de forma precisa o que foi observado", disse Adhikari.
Einstein, Bose e o condensado
A existência do condensado de Bose-Einstein foi prevista por Albert Einstein em 1925, a partir do trabalho de Satyendra Nath Bose, como consequência teórica da mecânica quântica. Setenta anos depois, em 1995, na Universidade do Colorado (Estados Unidos), Eric Cornell e Carl Wieman produziram pela primeira vez o condensado - recebendo, por conta disso, o Prêmio Nobel da Física em 2001.
O físico norte-americano Philip Warren Anderson, nascido em 1923, estudou profundamente as propriedades dos sólidos e os problemas da física da matéria condensada. Quando trabalhava nos Laboratórios Bell Labs, há cerca de 50 anos, Anderson descobriu o conceito de localização - a ideia de que estados expandidos podem ser localizados pela presença da desordem em um sistema.
Em 1977, Anderson ganhou o Nobel da Física por pesquisas sobre a estrutura eletrônica de sistemas magnéticos e desordenados, que permitiram o desenvolvimento de componentes de memória em computadores.
Condutor vira isolante
A condensação de bósons, ou de pares de férmions pela generalização apropriada, é um efeito frágil que pode ser facilmente superado por outras instabilidades. Dentre seus principais competidores estão a cristalização, a dissociação no caso de bósons compostos, e a desordem e localização.
"Na época, sabia-se que era possível transformar um sólido condutor em isolante - isto é, em um sólido que não permite que os elétrons carregados se movam por ele - com a introdução de uma pequena porcentagem de impurezas. Anderson estudou esses mecanismos e percebeu que os elétrons se movem em paralelo a uma rede de átomos localizada na superfície do sólido", disse Adhikari.
Com isso, Anderson percebeu que os átomos do sólido têm um potencial que, muito ordenado quando o sólido é puro, repete-se periodicamente. "Mas, quando colocamos impurezas no sólido, esse potencial periódico é quebrado. Quando o elétron encontra essa desordem, ele não consegue continuar seu trajeto e o sólido perde a condutibilidade. Anderson descobriu a formação de um estado ligado na superfície sólida", explicou Adhikari.
Localização de Anderson
A ausência da difusão de ondas em um meio desordenado passou a ser conhecida como "localização de Anderson". O fenômeno sugere a possibilidade de localização de elétrons dentro de um semicondutor, desde que o grau de aleatoriedade das impurezas ou defeitos seja suficientemente alto.
Os movimentos dos elétrons, no entanto, não podem ser observados, já que as minúsculas partículas obedecem às leis da mecânica quântica. Só a partir de 1995 o condensado de Bose-Einstein abriu a perspectiva para estudos experimentais desses fenômenos. Em 2008, os dois estudos europeus descreveram experimentos feitos com o condensado sobre o fenômeno da localização de Anderson.
"No laboratório, os cientistas criaram uma rede potencial com o uso de lasers polarizados que, refletidos entre dois espelhos, geravam uma onda estacionária. Ao longo dessa onda aparece um campo magnético que varia enquanto se propaga, mas que possui um comportamento periódico, com um potencial encontrado pelos elétrons dentro do sólido. Em vez do elétron, os pesquisadores colocam o condensado de Bose-Einstein nesse potencial para tentar localizá-lo", disse Adhikari.
Se o potencial for suficientemente forte, o condensado é localizado. Se for fraco demais, o condensado desaparece. "Eles criaram um potencial sem periodicidade, aleatório e perceberam que o condensado fica estagnado. Com isso, deram uma prova experimental do efeito de Anderson", disse.
Localização do condensado
Adhikari utilizou equações de Schroedinger para estudar e explicar os resultados das experiências em modelos teóricos. Além de verificar se as observações estavam corretas e se o condensado de Bose-Einstein de fato se tornava localizado, os estudos avaliaram o tamanho e a natureza da localização, definindo como ela varia ou qual sua interferência na interação potencial entre os átomos do condensado.
"A partir desse estudo, previmos também a localização do condensado de Bose-Einstein em outros casos, como o dos átomos dipolares. Condensados simples envolvem átomos comuns com potencial de curto alcance entre eles. Mas com os átomos com momento elétrico dipolar - que estão sendo muito utilizados para gerar condensados - podemos ter um potencial de longo alcance", disse.
Fronteira entre mundos quântico e clássico
No lado prático, vários progressos recentes têm sido feitos em busca de novas formas de estudar experimentalmente os fenômenos quânticos.
Há poucos meses, um grupo de pesquisadores demonstrou que uma esfera levitando por luz torna os fenômenos quânticos detectáveis numa escala maior, embora ainda microscópica.
O grupo do Dr. Markus Aspelmeyer, da Áustria, foi mais longe e estabeleceu uma interação entre um fóton e um ressonador micromecânico, criando o chamado acoplamento forte, capaz de transferir efeitos quânticos para o mundo macroscópico - veja Mundo quântico comunica-se com o mundo macro pela primeira vez.
O maior passo até agora, contudo, parece ter sido dado por uma equipe da Universidade de Santa Bárbara, nos Estados Unidos, que demonstrou que um ressonador mecânico - uma pequena fita metálica que pode vibrar livremente - que foi resfriada até o seu estado fundamental de energia (ground state), funciona em nível macro conforme as probabilidades de mecânica quântica - veja Mecânica quântica aplica-se ao movimento de objetos macroscópicos.
Brasileiros criam técnica para medir rotação da luz
Don Monroe - Physical Review Focus - 03/08/2010

Difração triangular: um feixe de luz que passa através de uma abertura triangular produz um padrão de pontos na superfície do detector (seu brilho calculado, que aparece aqui como uma elevação). O número de pontos em cada lado do triângulo central brilhante (aqui, cinco) é um a mais do que o momento angular orbital do feixe original.[Imagem: J. Hickmann/Federal Univ. of Alagoas]
Informações quânticas
A luz pode ter um "momento angular orbital", uma espécie de rotação, mas que se parece mais com um planeta orbitando ao redor do Sol do que girando sobre seu próprio eixo.
Medir essa propriedade é complicado, mas no exemplar de 30 de Julho da revista científica Physical Review Letters, pesquisadores brasileiros mostram que dirigir um feixe luminoso através de um buraco triangular cria uma matriz triangular de pontos que indica diretamente a dinâmica orbital angular desse feixe.
A técnica, simples e elegante, é uma ferramenta importante para explorar uma propriedade incomum da luz, que poderá no futuro ser usada para codificar informações quânticas.
Momento angular da luz
Quando um feixe de luz possui momento angular, esse momento angular pode ter dois elementos. O momentum angular "spin" corresponde à polarização circular da luz para a direita ou para esquerda, o que significa que a direção do campo elétrico gira no sentido horário ou anti-horário conforme a luz se move para a frente.
O momento angular orbital (OAM: Orbital Angular Momentum) - largamente aceito pela comunidade científica apenas nos últimos 20 anos - ocorre quando a direção do campo elétrico varia no interior do feixe.
Por exemplo, imagine medir a direção do campo elétrico em cada ponto ao redor de um feixe de luz de grande diâmetro. Ele pode apontar para cima, para a à direita (às três horas), para baixo, ou para a esquerda (às nove horas).
Este feixe pode ter uma unidade de OAM - uma "carga topológica" de um.
O campo de um feixe de carga dois poderia dar duas rotações completas conforme você se move ao redor de seu contorno.
Os pesquisadores esperam aproveitar esta propriedade para transportar informações com a luz, exatamente como eles já fazem com a polarização.
E com uma grande vantagem: enquanto cada fóton tem apenas dois estados de spin distintos, há potencialmente infinitos estados OAM. O problema é que até agora não havia um método de distinguir os diversos estados OAM de forma eficiente - veja informações associadas a isto nos artigos sobre spintrônica e orbitrônica.
Experimentos de difração
Os físicos já haviam descoberto como gerar feixes que possuam momento angular orbital e usá-los para exercer torque sobre partículas, movimentando-as.
Mas Jandir Miguel Hickmann e seus colegas da Universidade Federal de Alagoas, em Maceió, afirmam que há uma quantidade muito pequena de pesquisas que exploram o que acontece quando esses raios de luz passam por aberturas muito pequenas.
Esses experimentos de difração geram padrões de pontos que os físicos vêm usando há muito tempo para analisar as propriedades da luz comum - mas as técnicas para medir o OAM são poucas e mais complicadas.
Quando Hickmann e seus colegas simularam a difração de feixes de luz passando através de furos de variados formatos, eles descobriram que o uso de um triângulo isósceles traz um benefício inesperado: "Você pode simplesmente contar os pontos para descobrir a carga topológica". Os pesquisadores também verificaram esta previsão experimentalmente.
Medição do momento angular orbital
A equipe calculou e observou que, uma vez que o feixe está centrado no furo, ele gera um padrão incomum: uma rede triangular de pontos. O brilho de cada ponto individual depende das contribuições combinadas da luz a partir de diferentes locais no buraco triangular.
Os cálculos preveem que os pontos mais brilhantes formam um triângulo cujo tamanho (o número de pontos em cada um dos seus lados) é uma unidade maior do que a magnitude da carga topológica.
Além disso, o padrão luminoso triangular é girado em 60 graus em qualquer direção em relação à abertura, com a direção dependendo do sinal da carga (o sentido de rotação da luz). Assim, a abertura triangular representa uma maneira fácil de medir a magnitude e o sinal do momento angular orbital.
Miles Padgett, da Universidade de Glasgow, na Escócia, comentando o artigo dos brasileiros, afirmou que "Foi uma surpresa, pelo menos para mim, que haja uma relação tão simples e bonita" entre o número de pontos difratados, a orientação do padrão e a magnitude e o sinal da carga topológica.

Difração triangular: um feixe de luz que passa através de uma abertura triangular produz um padrão de pontos na superfície do detector (seu brilho calculado, que aparece aqui como uma elevação). O número de pontos em cada lado do triângulo central brilhante (aqui, cinco) é um a mais do que o momento angular orbital do feixe original.[Imagem: J. Hickmann/Federal Univ. of Alagoas]
Informações quânticas
A luz pode ter um "momento angular orbital", uma espécie de rotação, mas que se parece mais com um planeta orbitando ao redor do Sol do que girando sobre seu próprio eixo.
Medir essa propriedade é complicado, mas no exemplar de 30 de Julho da revista científica Physical Review Letters, pesquisadores brasileiros mostram que dirigir um feixe luminoso através de um buraco triangular cria uma matriz triangular de pontos que indica diretamente a dinâmica orbital angular desse feixe.
A técnica, simples e elegante, é uma ferramenta importante para explorar uma propriedade incomum da luz, que poderá no futuro ser usada para codificar informações quânticas.
Momento angular da luz
Quando um feixe de luz possui momento angular, esse momento angular pode ter dois elementos. O momentum angular "spin" corresponde à polarização circular da luz para a direita ou para esquerda, o que significa que a direção do campo elétrico gira no sentido horário ou anti-horário conforme a luz se move para a frente.
O momento angular orbital (OAM: Orbital Angular Momentum) - largamente aceito pela comunidade científica apenas nos últimos 20 anos - ocorre quando a direção do campo elétrico varia no interior do feixe.
Por exemplo, imagine medir a direção do campo elétrico em cada ponto ao redor de um feixe de luz de grande diâmetro. Ele pode apontar para cima, para a à direita (às três horas), para baixo, ou para a esquerda (às nove horas).
Este feixe pode ter uma unidade de OAM - uma "carga topológica" de um.
O campo de um feixe de carga dois poderia dar duas rotações completas conforme você se move ao redor de seu contorno.
Os pesquisadores esperam aproveitar esta propriedade para transportar informações com a luz, exatamente como eles já fazem com a polarização.
E com uma grande vantagem: enquanto cada fóton tem apenas dois estados de spin distintos, há potencialmente infinitos estados OAM. O problema é que até agora não havia um método de distinguir os diversos estados OAM de forma eficiente - veja informações associadas a isto nos artigos sobre spintrônica e orbitrônica.
Experimentos de difração
Os físicos já haviam descoberto como gerar feixes que possuam momento angular orbital e usá-los para exercer torque sobre partículas, movimentando-as.
Mas Jandir Miguel Hickmann e seus colegas da Universidade Federal de Alagoas, em Maceió, afirmam que há uma quantidade muito pequena de pesquisas que exploram o que acontece quando esses raios de luz passam por aberturas muito pequenas.
Esses experimentos de difração geram padrões de pontos que os físicos vêm usando há muito tempo para analisar as propriedades da luz comum - mas as técnicas para medir o OAM são poucas e mais complicadas.
Quando Hickmann e seus colegas simularam a difração de feixes de luz passando através de furos de variados formatos, eles descobriram que o uso de um triângulo isósceles traz um benefício inesperado: "Você pode simplesmente contar os pontos para descobrir a carga topológica". Os pesquisadores também verificaram esta previsão experimentalmente.
Medição do momento angular orbital
A equipe calculou e observou que, uma vez que o feixe está centrado no furo, ele gera um padrão incomum: uma rede triangular de pontos. O brilho de cada ponto individual depende das contribuições combinadas da luz a partir de diferentes locais no buraco triangular.
Os cálculos preveem que os pontos mais brilhantes formam um triângulo cujo tamanho (o número de pontos em cada um dos seus lados) é uma unidade maior do que a magnitude da carga topológica.
Além disso, o padrão luminoso triangular é girado em 60 graus em qualquer direção em relação à abertura, com a direção dependendo do sinal da carga (o sentido de rotação da luz). Assim, a abertura triangular representa uma maneira fácil de medir a magnitude e o sinal do momento angular orbital.
Miles Padgett, da Universidade de Glasgow, na Escócia, comentando o artigo dos brasileiros, afirmou que "Foi uma surpresa, pelo menos para mim, que haja uma relação tão simples e bonita" entre o número de pontos difratados, a orientação do padrão e a magnitude e o sinal da carga topológica.
domingo, 11 de julho de 2010
Robô mais forte do mundo nasce de um chip
Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/07/2010
Os nada menos que 512 pés, dispostos quatro a quatro para formar 128 conjuntos, permitem que os microrrobôs movimentem-se em qualquer direção, sobre terrenos totalmente irregulares. [Imagem: John Suh/Stanford University]
Microrrobôs
O projeto grandioso do Dr. Karl Bohringer, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, contrasta fortemente com os instrumentos que ele pretende usar para realizá-lo.
O pesquisador vislumbra que, em um futuro próximo, milhares de robôs microscópicos, ou microrrobôs, poderão ser atirados de um avião ou de um helicóptero e, ao cair no chão, começarem a desempenhar sozinhos a tarefa para a qual foram projetados.
Entre essas tarefas estão explorar estruturas e regiões assoladas por desastres naturais, coletar dados e analisar amostras do meio ambiente, ou fazer qualquer outra tarefa onde as pequenas dimensões sejam uma vantagem.
"Quinhentopeia"
Para exemplificar o conceito, Bohringer e sua equipe construíram robôs que pesam meio grama, medem apenas alguns centímetros de comprimento e têm a espessura equivalente à de uma unha.
Os nada menos que 512 pés, dispostos quatro a quatro para formar 128 conjuntos, permitem que os microrrobôs movimentem-se em qualquer direção, sobre terrenos totalmente irregulares.
Os microrrobôs estão também entre os mais fortes já construídos: cada um deles é capaz de carregar o equivalente a sete vezes o seu próprio peso, o que pode ser usado tanto para levar cargas para locais pré-determinados, quanto para recolher amostras do meio ambiente.
Pernas super rápidas
O microrrobô foi construído a partir de um chip virado de cabeça para baixo. Aqui ele carrega sete vezes o seu peso em clipes de papel. [Imagem: University of Washington]
O grande avanço está justamente na disposição e na estrutura de movimentação das pernas dessa centopeia robótica. Cada perna é feita com um fio metálico ensanduichado entre dois materiais com coeficientes de expansão termal diferentes - sob calor, um deles se expande mais do que o outro.
Quando uma corrente elétrica passa através da perna do robô, o fio aquece os dois materiais. Como um dos lados se expande mais do que o outro, isto faz a perna se curvar para um dos lados. A desligar a energia, a perna retorna à sua posição original.
A área superficial das pernas é tão grande em comparação com seu volume que elas podem aquecer ou esfriar em apenas 20 milissegundos.
Os conjuntos com centenas de pernas, alimentadas sequencialmente, podem repetir o movimento de 20 a 30 vezes por segundo.
"O tempo de resposta é um ponto interessante nesses robôs minúsculos," explica Bohringer. "No seu forno, pode levar dezenas de minutos para aquecer algo. Mas nesta pequena escala, o aquecimento é muito, muito mais rápido."
Robô-chip
O microrrobô do Dr. Bohringer tem uma longa história. Ele nasceu como um chip para a fabricação de escâneres de imagem e impressoras muito finas. Logo depois ele foi adaptado para ser usado em satélites artificiais.
Agora o que os pesquisadores fizeram foi virá-lo de cabeça para baixo e transformar seus pinos de conexão em pernas, criando um robô parecido com uma centopeia, só que muito mais rápido e muito mais forte.
"É um dos mais fortes atuadores que você pode obter em pequena escala, e ele tem uma das maiores amplitudes de movimentação," conta Bohringer. "Isto é difícil de obter nessa escala."
Os nada menos que 512 pés, dispostos quatro a quatro para formar 128 conjuntos, permitem que os microrrobôs movimentem-se em qualquer direção, sobre terrenos totalmente irregulares. [Imagem: John Suh/Stanford University]
Microrrobôs
O projeto grandioso do Dr. Karl Bohringer, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, contrasta fortemente com os instrumentos que ele pretende usar para realizá-lo.
O pesquisador vislumbra que, em um futuro próximo, milhares de robôs microscópicos, ou microrrobôs, poderão ser atirados de um avião ou de um helicóptero e, ao cair no chão, começarem a desempenhar sozinhos a tarefa para a qual foram projetados.
Entre essas tarefas estão explorar estruturas e regiões assoladas por desastres naturais, coletar dados e analisar amostras do meio ambiente, ou fazer qualquer outra tarefa onde as pequenas dimensões sejam uma vantagem.
"Quinhentopeia"
Para exemplificar o conceito, Bohringer e sua equipe construíram robôs que pesam meio grama, medem apenas alguns centímetros de comprimento e têm a espessura equivalente à de uma unha.
Os nada menos que 512 pés, dispostos quatro a quatro para formar 128 conjuntos, permitem que os microrrobôs movimentem-se em qualquer direção, sobre terrenos totalmente irregulares.
Os microrrobôs estão também entre os mais fortes já construídos: cada um deles é capaz de carregar o equivalente a sete vezes o seu próprio peso, o que pode ser usado tanto para levar cargas para locais pré-determinados, quanto para recolher amostras do meio ambiente.
Pernas super rápidas
O microrrobô foi construído a partir de um chip virado de cabeça para baixo. Aqui ele carrega sete vezes o seu peso em clipes de papel. [Imagem: University of Washington]
O grande avanço está justamente na disposição e na estrutura de movimentação das pernas dessa centopeia robótica. Cada perna é feita com um fio metálico ensanduichado entre dois materiais com coeficientes de expansão termal diferentes - sob calor, um deles se expande mais do que o outro.
Quando uma corrente elétrica passa através da perna do robô, o fio aquece os dois materiais. Como um dos lados se expande mais do que o outro, isto faz a perna se curvar para um dos lados. A desligar a energia, a perna retorna à sua posição original.
A área superficial das pernas é tão grande em comparação com seu volume que elas podem aquecer ou esfriar em apenas 20 milissegundos.
Os conjuntos com centenas de pernas, alimentadas sequencialmente, podem repetir o movimento de 20 a 30 vezes por segundo.
"O tempo de resposta é um ponto interessante nesses robôs minúsculos," explica Bohringer. "No seu forno, pode levar dezenas de minutos para aquecer algo. Mas nesta pequena escala, o aquecimento é muito, muito mais rápido."
Robô-chip
O microrrobô do Dr. Bohringer tem uma longa história. Ele nasceu como um chip para a fabricação de escâneres de imagem e impressoras muito finas. Logo depois ele foi adaptado para ser usado em satélites artificiais.
Agora o que os pesquisadores fizeram foi virá-lo de cabeça para baixo e transformar seus pinos de conexão em pernas, criando um robô parecido com uma centopeia, só que muito mais rápido e muito mais forte.
"É um dos mais fortes atuadores que você pode obter em pequena escala, e ele tem uma das maiores amplitudes de movimentação," conta Bohringer. "Isto é difícil de obter nessa escala."
Imagens médicas são criadas com técnica mais rápida que a luz
Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/07/2010
Quando uma partícula move-se mais rápido do que a velocidade da luz naquele meio específico, ela produz uma "onda de choque" parecida com a onda sônica gerada quando um avião quebra a barreira do som - é a radiação de Cerenkov. [Imagem: Matt Howard]
A próxima geração de técnicas de imageamento médico poderá se basear em uma tecnologia baseada em um fenômeno que se move mais rapidamente do que a velocidade da luz
De acordo com um grupo de cientistas de várias universidades norte-americanas, a técnica tem potencial para criar exames mais eficientes e mais baratos para o diagnóstico e o tratamento de câncer e de vários outros problemas de saúde.
Luminescência de Cerenkov
A nova técnica de imageamento óptico é chamada de imageamento por luminescência de Cerenkov, ou radiação de Cerenkov, ou mais simplesmente CLI (Cerenkov Luminescence Imaging).
A velocidade da luz depende do meio no qual ela viaja - por exemplo, sua velocidade diminui quando ela viaja através da água. Mas quando uma partícula - um elétron, por exemplo - move-se mais rápido do que a velocidade da luz naquele meio específico, normalmente um isolante, ela produz uma "onda de choque" - de forma muito parecida com a onda sônica gerada quando um avião quebra a barreira do som - emitindo uma luz azul conhecida como radiação de Cerenkov.
É a radiação de Cerenkov que é responsável pela coloração azulada dos reatores nucleares.
Essa luminescência também pode ser gerada pelos contrastes radioativos injetados na corrente sanguínea do paciente. Com isto, é possível dispensar o uso de uma fonte externa de luz, comumente usada para gerar imagens do interior do corpo humano.
A combinação do imageamento óptico com a medicina nuclear representa uma nova forma de gerar imagens a partir dos isótopos médicos.
"Isto dá ao imageamento óptico um conjunto de contrastes nucleares já utilizados clinicamente hoje, que podem ser utilizados imediatamente, ao contrário dos corantes fluorescentes," explica o Dr. Jan Grimm, do Weill Cornell Medical Center, principal autor do artigo que descreve a nova técnica.
Imageamento óptico
O imageamento óptico é uma técnica na qual moléculas luminescentes, projetadas para se ligar a células ou moléculas específicas do corpo humano, são injetadas na corrente sanguínea e então detectadas por um sensor óptico externo. [Imagem: JNM]
Os cientistas consideram que as técnicas de imageamento multimodais representam a próxima fronteira para a geração de imagens do interior do corpo humano mais precisas e a um custo mais baixo. O imageamento óptico é uma técnica na qual moléculas luminescentes, projetadas para se ligar a células ou moléculas específicas do corpo humano, são injetadas na corrente sanguínea e então detectadas por um sensor óptico externo.
Hoje, o imageamento óptico exige a excitação dessas moléculas por uma fonte externa de luz ou por um processo biológico, para que elas emitam a luz que será captada pelo sensor.
A radiação de Cerenkov produz a luz pela radioatividade, dispensando a fonte de luz externa ou sua ativação biológica. É por isto que a nova técnica é considerada como um processo de imageamento híbrido, que combina imagens ópticas com a imagem radioterápica tradicional.
Pósitrons e raios gama
Uma vantagem adicional da imageamento por luminescência de Cerenkov é que ela permite captar imagens de núcleos radioativos que não emitem nem pósitrons e nem raios gama - a maior limitação das técnicas de imageamento nuclear atuais.
Além disso, o imageamento óptico é promissor para uso em endoscopia e em cirurgias graças à sua capacidade de visualizar lesões tumorais, dando informações em tempo real aos médicos para guiar as cirurgias.
"Os benefícios do imageamento óptico são muitos, e nós estamos no caminho certo para torná-los uma realidade para uso nas clínicas e nos hospitais," diz o Dr. Grimm.
Quando uma partícula move-se mais rápido do que a velocidade da luz naquele meio específico, ela produz uma "onda de choque" parecida com a onda sônica gerada quando um avião quebra a barreira do som - é a radiação de Cerenkov. [Imagem: Matt Howard]
A próxima geração de técnicas de imageamento médico poderá se basear em uma tecnologia baseada em um fenômeno que se move mais rapidamente do que a velocidade da luz
De acordo com um grupo de cientistas de várias universidades norte-americanas, a técnica tem potencial para criar exames mais eficientes e mais baratos para o diagnóstico e o tratamento de câncer e de vários outros problemas de saúde.
Luminescência de Cerenkov
A nova técnica de imageamento óptico é chamada de imageamento por luminescência de Cerenkov, ou radiação de Cerenkov, ou mais simplesmente CLI (Cerenkov Luminescence Imaging).
A velocidade da luz depende do meio no qual ela viaja - por exemplo, sua velocidade diminui quando ela viaja através da água. Mas quando uma partícula - um elétron, por exemplo - move-se mais rápido do que a velocidade da luz naquele meio específico, normalmente um isolante, ela produz uma "onda de choque" - de forma muito parecida com a onda sônica gerada quando um avião quebra a barreira do som - emitindo uma luz azul conhecida como radiação de Cerenkov.
É a radiação de Cerenkov que é responsável pela coloração azulada dos reatores nucleares.
Essa luminescência também pode ser gerada pelos contrastes radioativos injetados na corrente sanguínea do paciente. Com isto, é possível dispensar o uso de uma fonte externa de luz, comumente usada para gerar imagens do interior do corpo humano.
A combinação do imageamento óptico com a medicina nuclear representa uma nova forma de gerar imagens a partir dos isótopos médicos.
"Isto dá ao imageamento óptico um conjunto de contrastes nucleares já utilizados clinicamente hoje, que podem ser utilizados imediatamente, ao contrário dos corantes fluorescentes," explica o Dr. Jan Grimm, do Weill Cornell Medical Center, principal autor do artigo que descreve a nova técnica.
Imageamento óptico
O imageamento óptico é uma técnica na qual moléculas luminescentes, projetadas para se ligar a células ou moléculas específicas do corpo humano, são injetadas na corrente sanguínea e então detectadas por um sensor óptico externo. [Imagem: JNM]
Os cientistas consideram que as técnicas de imageamento multimodais representam a próxima fronteira para a geração de imagens do interior do corpo humano mais precisas e a um custo mais baixo. O imageamento óptico é uma técnica na qual moléculas luminescentes, projetadas para se ligar a células ou moléculas específicas do corpo humano, são injetadas na corrente sanguínea e então detectadas por um sensor óptico externo.
Hoje, o imageamento óptico exige a excitação dessas moléculas por uma fonte externa de luz ou por um processo biológico, para que elas emitam a luz que será captada pelo sensor.
A radiação de Cerenkov produz a luz pela radioatividade, dispensando a fonte de luz externa ou sua ativação biológica. É por isto que a nova técnica é considerada como um processo de imageamento híbrido, que combina imagens ópticas com a imagem radioterápica tradicional.
Pósitrons e raios gama
Uma vantagem adicional da imageamento por luminescência de Cerenkov é que ela permite captar imagens de núcleos radioativos que não emitem nem pósitrons e nem raios gama - a maior limitação das técnicas de imageamento nuclear atuais.
Além disso, o imageamento óptico é promissor para uso em endoscopia e em cirurgias graças à sua capacidade de visualizar lesões tumorais, dando informações em tempo real aos médicos para guiar as cirurgias.
"Os benefícios do imageamento óptico são muitos, e nós estamos no caminho certo para torná-los uma realidade para uso nas clínicas e nos hospitais," diz o Dr. Grimm.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Descoberta nova partícula que interfere no movimento da eletricidade
Redação do Site Inovação Tecnológica - 31/05/2010
O experimento demonstrou que o modelo de bandgap baseado unicamente no elétron não é suficiente para descrever o movimento das cargas elétricas no grafeno, que é muito mais complexa do que se imaginava.[Imagem: Bostwick et al./Science]
Como a eletricidade se move
Você aprendeu na escola que a eletricidade é criada pelo movimento dos elétrons.
Se foi um pouco mais aplicado, aprendeu também que o movimento da eletricidade se dá por meio dos "portadores de carga" - os próprios elétrons, negativos, e as lacunas, positivas, onde os elétrons se alojam durante seu movimento.
Mas as coisas começam a se tornar mais emocionantes conforme se mergulha rumo ao mundo nano.
Tome por exemplo o grafeno, um material formado por uma única camada de átomos de carbono e que é visto como um dos mais promissores tanto na área de materiais quanto na eletrônica.
Plasmon
Como a eletricidade se move no grafeno?
Ela continua tendo elétrons e lacunas como portadores de carga, mas que começam a ser influenciados pelos plasmons de superfície - vale lembrar que o grafeno é bidimensional, ou seja, ele é inteiro superfície.
Os plasmons de superfície são ondas de luz acopladas a ondas de elétrons, que surgem na interface entre um metal e um dielétrico, um material não-condutor, como o ar - ou seja, ao longo de todo o grafeno.
Essas "oscilações de densidade" movem-se de forma parecida com o som, através do "mar de elétrons" que existe na superfície do grafeno.
Plasmaron
Agora, pela primeira vez, os cientistas detectaram um plasmaron, uma quase-partícula, ou partícula composta, formada por uma portadora de carga normal acoplada a um plasmon.
"Embora os plasmarons tenham sido propostos teoricamente na década de 1960, e evidências indiretas deles já tenham sido encontradas, o nosso trabalho consiste na primeira observação de suas bandas de energia distintas," afirma Eli Rotenberg, do Laboratório Lawrence Berkeley, nos Estados Unidos.
Rotenberg é o coordenador do grupo que identificou diretamente a assinatura inequívoca do plasmaron.
Plasmônica
O entendimento das relações existentes entre esses três tipos de "partículas" - portadoras de carga (elétrons e lacunas), plasmons e plasmarons - pode levar ao uso do grafeno na chamada plasmônica.
O nome plasmônica vem dos plasmons de superfície. Assim como nos circuitos eletrônicos atuais, os sinais são transmitidos por elétrons, nos futuros circuitos plasmônicos os sinais serão transmitidos pela oscilação conjunta de sinais elétricos e ópticos.
Até agora os experimentos vinham se baseando sobretudo nas quase-partículas chamadas polaritons. Os plasmarons vêm se somar à caixa de ferramentas dos cientistas em busca dessa área emergente da tecnologia em nanoescala, frequentemente chamada de "luz por meio de fios".
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Pele de tubarão vira tinta para revestir aviões e geradores eólicos
Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/05/2010
As escamas dos tubarões evoluíram ao longo de milhões de anos para permitir que o animal nade muito rápido, diminuindo a resistência contra o fluxo da água.[Imagem: EMU/University of Cape Town]
Um grupo de cientistas alemães anunciou recentemente estar tentando copiar o truque de uma samambaia para manter-se seca para criar um revestimento biônico para navios, ajudando-os a economizar até 1% de todo o combustível fóssil consumido no planeta.
Mas seus colegas do Instituto Fraunhofer, também na Alemanha, acreditam que os tubarões são uma aposta com melhores possibilidades de ganhos a curto prazo.
Escamas de tubarões
De olho não apenas nos navios, mas principalmente nos aviões e nas turbinas eólicas, os pesquisadores criaram um novo sistema de pintura que imita a pele dos tubarões, diminuindo a resistência ao arrasto - do ar ou da água - e, por decorrência, fazendo-os gastar menos combustível ou gerar mais eletricidade.
A inspiração para a criação da nova tinta veio das escamas dos tubarões. Essas escamas, que evoluíram ao longo de milhões de anos para permitir que o animal nade muito rápido, diminuem a resistência contra o fluxo de um fluido.
A inspiração para a criação da nova tinta veio das escamas dos tubarões. Essas escamas, que evoluíram ao longo de milhões de anos para permitir que o animal nade muito rápido, diminuem a resistência contra o fluxo de um fluido.
No caso dos tubarões, o fluido é obviamente a água. Mas a solução também funciona para o ar, permitindo que a tinta anti-arrasto possa ser aplicada aos aviões e pás dos geradores eólicos.
Nanopartículas
O maior desafio enfrentado pela equipe da Dra. Yvonne Wilke foi aprimorar o sistema de revestimento para que ele pudesse resistir às altas velocidades, à intensa radiação ultravioleta e às flutuações de temperatura - de -55 a +70 graus Celsius - a que os aviões estão sujeitos rotineiramente.
A principal parte da receita da nova tinta são nanopartículas especialmente desenvolvidas pela Dra. Wilke e seus colegas Volkmar Stenzel e Manfred Peschka.
As nanopartículas dão à tinta as suas características de resistência à radiação ultravioleta, às variações de temperatura e à carga a que está submetida toda a superfície do avião ou do navio.
Pintura com estêncil
"Nossa solução consiste não em aplicar a tinta diretamente, mas através de um estêncil," afirma Peschka. Segundo o pesquisador, é isto que dá ao revestimento sua estrutura parecida com a pele de tubarão.
O segredo da técnica está em aplicar a tinta líquida de forma totalmente uniforme, em uma fina camada sobre o estêncil e, ao mesmo tempo garantir que o estêncil possa ser novamente retirado.
A dificuldade reside em que é necessário a aplicação de radiação ultravioleta para que o revestimento seque e endureça. Mas os pesquisadores afirmam ter vencido esta etapa.
Eles também testaram o revestimento em navios, obtendo um ganho de 5% na redução do atrito. Mas as algas e cracas que grudam no casco dos navios representam um desafio à parte e os cientistas ainda estão trabalhando em busca da melhor solução para esse problema.
Rotores eólicos
Segundo os cálculos dos cientistas, se todos os aviões em uso hoje recebessem a nova tinta, isto resultaria em uma economia anual de 4,48 milhões de toneladas de combustível.
Além da economia de combustível, existem aplicações ainda mais interessantes - por exemplo, nas fazendas de energia eólica.
A resistência do ar tem um efeito negativo sobre as pás do rotor. A nova pintura poderá melhorar o grau de eficiência dos geradores eólicos e, portanto, aumentar sua capacidade de geração de energia.
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